Qui, 22 de julho de 2021, 14:51

Artigo de professora da UFS detecta lacuna nas pesquisas sobre autismo grave
Estudo analisa benefícios da dança para sintomas negativos do Transtorno do Espectro Autista

O transtorno do espectro autista (TEA) envolve condições diversas e diferentes graus de comprometimento. Há autistas com e sem dificuldades na fala, com e sem comprometimento intelectual, com mais ou menos dificuldades de socialização e expressão de sentimentos. Para abranger toda essa diversidade de quadros clínicos, personalidades e vivências, os profissionais de saúde precisam se reinventar e encontrar novas formas de abordagem. Foi isso que fez a fisioterapeuta e docente Lavinia Teixeira, do Departamento de Educação em Saúde do campus de Lagarto. Lavínia e seu grupo (envolvendo discentes de graduação e pós-graduação) pesquisam o impacto da dança nos aspectos negativos do autismo (dificuldade de socialização, falta de contato visual, problemas com empatia), dentre outros. O grupo desenvolveu uma revisão sistemática para compreender a abordagem científica realizada internacionalmente e as intervenções realizadas com esse público.

Para a professora, nacional e internacionalmente, muitos estudos acabam priorizando autistas adolescentes e com autismo de alto funcionamento que fazem suas atividades sem grandes comprometimentos em suas funcionalidades. "Estudos que abordem intervenções em pessoas com TEA com níveis mais severos são mais difíceis de desenvolver e há pouca evidência, especialmente em pessoas com comprometimento motor grave ou outras comorbidades associadas", pontua.


Lavínia Teixeira é professora do Departamento de Educação em Saúde do campus de Lagarto. (foto: Rádio UFS)
Lavínia Teixeira é professora do Departamento de Educação em Saúde do campus de Lagarto. (foto: Rádio UFS)

A dança tem, porém, um papel importante na expressividade dos autistas, como a docente percebeu durante as aulas realizadas com as crianças e adolescentes no campus. "A dança desenvolve a afetividade e a empatia. Isso envolve a expressividade corporal e o contato com a música. E nós deixamos todos à vontade. Cada um vai no seu ritmo, respeitando os seus limites e permitindo que eles participem quando quiserem", explica.

Lavínia conta uma vivência que a marcou sobre o ritmo e a forma de aprendizado de cada um. "Um menino, ainda muito criança, participou do nosso grupo. Ele estava sempre nos ensaios, mas nunca aceitava participar da dança. Corria, brincava, mas nunca dançava. Porém, quando fizemos a apresentação em Aracaju, ele também quis se expressar com os outros no palco. A dança tem um papel importante na forma de se expressar, não apenas na memorização de sequências de movimentos, mas sobre a possibilidade de expressar algo e ser visto como os demais colegas de dança. É o sentimento de pertencimento de um grupo que se apresenta em conjunto, vai muito além do aprendizado e do trabalho corporal", observa.

Segundo a docente, os encontros do TALT ajudam a trabalhar nas emoções. "A gente trabalha músicas que envolvem euforia, raiva, amor. A ideia é pensar como a gente pode, numa gama de possibilidades, promover a expressão corporal". Os atendimentos do grupo TALT estão suspensos, em virtude da pandemia, ainda sem previsão de retorno.

O artigo intitulado "Dança Promove benefícios para os sintomas negativos do Transtorno do Espectro Autista: uma revisão sistemática", se traduzirmos para o português, foi publicado na revista científica Terapias Complementares em Medicina. Além da docente do campus de Lagarto, o trabalho é assinado pelos pesquisadores Beatriz Menezes, Romário Costa e Fernanda Oliveira, da UFS, e Jair Mari e Ricardo Arida, da Universidade Federal de São Paulo.

Ana Laura Farias - campus de Lagarto

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Atualizado em: Qua, 11 de agosto de 2021, 16:57
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